sábado, 5 de janeiro de 2013

O Essencial é Invisível aos Olhos


Outro dia, estava eu na aula de Educação Nutricional onde nosso professor havia pedido que lêssemos “O Pequeno Príncipe” para discutirmos a obra diante da nossa profissão. Confesso que não havia lido para a aula, pois já tinha feito isso algumas vezes (já que acho este livro fantástico!). No decorrer da conversa e notando o quanto estava sendo interessante o debate do livro e sua aplicação na nossa área, me dei conta de que este seria o assunto desse meu texto, e cá estou!

Tomei o livro em mãos e comecei a ler novamente (e, como todo mundo que já leu esse livro, cada leitura é uma redescoberta de coisas simples e incríveis). Confesso que essa releitura me reafirmou o que havíamos discutido em aula: como um pequeno clássico, de leitura tão simples, pode ser uma forte ferramenta para se trabalhar o outro. E se tratando de Nutrição - essa arte de lidar com o individual - algumas passagens foram de grande aprendizado para mim e se destacaram como uma chave para uma boa atuação profissional.

O autor do livro trabalha de forma simples a importância de saber ouvir, assim como a importância de questionar. Na nossa área, a saúde, as coisas andam se tornando tão automáticas, que basta trocar um olhar com alguns profissionais e eles já estão dando o diagnóstico, as causas prováveis e o tratamento. Perdeu-se o hábito de ouvir, o hábito de conversar, de tentar entender o porquê de cada coisinha. E às vezes a resposta está justamente ali, no “por trás” de certas ações; assim como o bêbado, personagem do livro que bebia por vergonha de beber. Quantas vezes iremos nos deparar com pessoas que estão ali buscando nosso auxílio para tratar uma fraqueza que nem sempre tem explicações fisiológicas. E vem daí a lição do Principezinho de se interessar pelo outro, de buscar a essência e não o superficial, de ser menos mecânico e mais humano.

Na obra, o autor divide sua experiência frustrada de tentar desenhar o que sua imaginação percebia e ser desmotivado pelos “adultos” que não conseguiam enxergar com a mesma clareza. Afirma, então, ter abandonado uma esplêndida carreira de pintor para se aventurar em outra área. E quantas vezes nós, profissionais de saúde, profissionais da nutrição, desmotivamos alguém, por uma simples palavra mal colocada, por uma simples expressão facial ou pura e simplesmente por não compreender o que aquela pessoa quer nos mostrar. Reafirmo aqui o que sempre digo sobre a profissão que escolhi: a nutrição é uma via de mão dupla, não depende apenas de um dos lados dessa parceria! Encorajar o outro, buscar o que ele traz no seu íntimo e não sabe expor da maneira que esperamos, motivá-lo a encontrar o seu melhor, é nosso papel e o caminho para o sucesso que esperamos obter nessa relação.

Assim como o personagem contador e os “adultos” se apegam em números o tempo todo, nos deparamos com os “quantos quilos tenho que perder?”, “quanto tempo vai levar?”, “quero pesar tanto!”, “tenho que comer tanto!”... Vários números que mecanizam um aprendizado que vai além de “quantas calorias esse alimento tem?”

Outro personagem, o acendedor de lampiões, ilustra bem uma realidade dos “tempos modernos”. Estamos vivendo em um mundo onde executar vale mais que pensar, que questionar. Apenas executamos as ordens (dadas por outros ou por nós mesmos) e não paramos um segundo sequer para entender o que nos rodeia ou o porquê daquilo. Temos, ainda, muito do vaidoso em nós. Queremos ser admirados o tempo todo. Mas muitas vezes essa admiração se torna tão superficial que o mais importante passa despercebido. E tudo isso para alcançar padrões impostos por “alguém aí”.

Pois bem! Levemos em consideração as lições dadas pelo rei e pela raposa. O primeiro faz uma importante colocação sobre a relação com o próximo: devemos exigir de cada um, o que cada um pode nos dar. Não é porque estamos ali representando uma “autoridade”, como nutricionistas, que devemos cobrar do outro aquilo que ele não tem condições de alcançar. Já a raposa, vista como um animal traiçoeiro por muitos, nos ensina o poder de colocar emoção em tudo. Precisamos colocar emoção no que fazemos e fazer com paixão, e devemos mexer com o sentimento do outro para despertar nele o seu melhor.

Fica também a maior das lições, no meu ponto de vista, que esse clássico da literatura nos deixa, não apenas na nossa profissão, não apenas na nossa área, não apenas na historinha contada pelo livro, mas lição para a vida toda: precisamos sempre buscar o melhor do próximo, enxergar o melhor que ele tem através da superficialidade que a vida impõe, pois “O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS”!

* Aos que já leram a obra, recomendo que leiam novamente, com outros olhos, com outra perspectiva, sempre que julgar necessário. Aos que ainda não leram, espero ter despertado a vontade de abrir logo este livro por aí. “O Pequeno Príncipe”, escrito por Antoine de Saint-Exupéry, é uma obra antiga, de leitura simples e singela que vem atravessando gerações com suas lições. Acrescentaria ainda ser um livro surpreendente, pois, quem diria que um clássico “infantil” pudesse se tornar para nós uma verdadeira apostila de Educação Nutricional?

                                                                                       Tamara Pereira
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