Outro dia, estava eu na aula de
Educação Nutricional onde nosso professor havia pedido que lêssemos “O Pequeno Príncipe” para discutirmos a
obra diante da nossa profissão. Confesso que não havia lido para a aula, pois
já tinha feito isso algumas vezes (já que acho este livro fantástico!). No
decorrer da conversa e notando o quanto estava sendo interessante o debate do
livro e sua aplicação na nossa área, me dei conta de que este seria o assunto
desse meu texto, e cá estou!
Tomei
o livro em mãos e comecei a ler novamente (e, como todo mundo que já leu esse
livro, cada leitura é uma redescoberta de coisas simples e incríveis). Confesso
que essa releitura me reafirmou o que havíamos discutido em aula: como um
pequeno clássico, de leitura tão simples, pode ser uma forte ferramenta para se
trabalhar o outro. E se tratando de Nutrição - essa arte de lidar com o individual
- algumas passagens foram de grande aprendizado para mim e se destacaram como uma
chave para uma boa atuação profissional.
O
autor do livro trabalha de forma simples a importância de saber ouvir, assim
como a importância de questionar. Na nossa área, a saúde, as coisas andam se
tornando tão automáticas, que basta trocar um olhar com alguns profissionais e
eles já estão dando o diagnóstico, as causas prováveis e o tratamento. Perdeu-se
o hábito de ouvir, o hábito de conversar, de tentar entender o porquê de cada
coisinha. E às vezes a resposta está justamente ali, no “por trás” de certas
ações; assim como o bêbado,
personagem do livro que bebia por vergonha de beber. Quantas vezes iremos nos
deparar com pessoas que estão ali buscando nosso auxílio para tratar uma
fraqueza que nem sempre tem explicações fisiológicas. E vem daí a lição do Principezinho de se interessar pelo
outro, de buscar a essência e não o superficial, de ser menos mecânico e mais
humano.
Na
obra, o autor divide sua experiência frustrada de tentar desenhar o que sua
imaginação percebia e ser desmotivado pelos “adultos” que não conseguiam
enxergar com a mesma clareza. Afirma, então, ter abandonado uma esplêndida
carreira de pintor para se aventurar em outra área. E quantas vezes nós,
profissionais de saúde, profissionais da nutrição, desmotivamos alguém, por uma
simples palavra mal colocada, por uma simples expressão facial ou pura e
simplesmente por não compreender o que aquela pessoa quer nos mostrar. Reafirmo
aqui o que sempre digo sobre a profissão que escolhi: a nutrição é uma via de
mão dupla, não depende apenas de um dos lados dessa parceria! Encorajar o
outro, buscar o que ele traz no seu íntimo e não sabe expor da maneira que
esperamos, motivá-lo a encontrar o seu melhor, é nosso papel e o caminho para o
sucesso que esperamos obter nessa relação.
Assim
como o personagem contador e os
“adultos” se apegam em números o tempo todo, nos deparamos com os “quantos
quilos tenho que perder?”, “quanto tempo vai levar?”, “quero pesar tanto!”,
“tenho que comer tanto!”... Vários números que mecanizam um aprendizado que vai
além de “quantas calorias esse alimento tem?”
Outro
personagem, o acendedor de lampiões, ilustra
bem uma realidade dos “tempos modernos”. Estamos vivendo em um mundo onde
executar vale mais que pensar, que questionar. Apenas executamos as ordens
(dadas por outros ou por nós mesmos) e não paramos um segundo sequer para
entender o que nos rodeia ou o porquê daquilo. Temos, ainda, muito do vaidoso em nós. Queremos ser admirados o
tempo todo. Mas muitas vezes essa admiração se torna tão superficial que o mais
importante passa despercebido. E tudo isso para alcançar padrões impostos por
“alguém aí”.
Pois
bem! Levemos em consideração as lições dadas pelo rei e pela raposa. O
primeiro faz uma importante colocação sobre a relação com o próximo: devemos
exigir de cada um, o que cada um pode nos dar. Não é porque estamos ali
representando uma “autoridade”, como nutricionistas, que devemos cobrar do
outro aquilo que ele não tem condições de alcançar. Já a raposa, vista como um
animal traiçoeiro por muitos, nos ensina o poder de colocar emoção em tudo.
Precisamos colocar emoção no que fazemos e fazer com paixão, e devemos mexer
com o sentimento do outro para despertar nele o seu melhor.
Fica
também a maior das lições, no meu ponto de vista, que esse clássico da
literatura nos deixa, não apenas na nossa profissão, não apenas na nossa área,
não apenas na historinha contada pelo livro, mas lição para a vida toda:
precisamos sempre buscar o melhor do próximo, enxergar o melhor que ele tem
através da superficialidade que a vida impõe, pois “O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS
OLHOS”!
* Aos que já leram a obra, recomendo que leiam novamente, com outros olhos, com outra perspectiva, sempre que julgar necessário. Aos que ainda não leram, espero ter despertado a vontade de abrir logo este livro por aí. “O Pequeno Príncipe”, escrito por Antoine de Saint-Exupéry, é uma obra antiga, de leitura simples e singela que vem atravessando gerações com suas lições. Acrescentaria ainda ser um livro surpreendente, pois, quem diria que um clássico “infantil” pudesse se tornar para nós uma verdadeira apostila de Educação Nutricional?
Tamara Pereira
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