quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Peso de Grandes Expectativas


Para começar meu primeiro texto no blog, fiquei pensando em diversos temas, mas decidi falar um pouco sobre o nosso corpo. E não apenas o corpo, mas como lidamos com ele e de que forma ele interfere em outros aspectos do dia a dia.

A sociedade hoje em dia, cada vez mais valoriza a magreza e o corpo extremamente malhado e perfeito, transformando a gordura cada vez mais, em uma espécie de símbolo de falência moral. O nosso corpo nada mais é que a nossa identidade pessoal, e sendo assim, sentir vergonha do próprio corpo seria equivalente a sentir vergonha de si mesmo.

Existe atualmente certa cobrança pela felicidade, essa dada como uma obrigação, um dever de que o ser humano deve ser constantemente feliz, sociável e que exale felicidade e otimismo o tempo todo. A relação com a materialidade corporal também entra com bastante importância nesse aspecto, uma vez que a obsessão pelas boas formas físicas e, ainda, a ânsia por encarnar na própria pele a perfeição, acaba por punir o homem e cobra-lo de uma perfeição que na verdade não existe.

Do ponto de vista mais sociológico, o estigma que sofremos com a perfeição constante pode ser tão ou mais prejudicial que inúmeros problemas de saúde. A beleza física e o corpo, muitas vezes são distorcidos, sendo como se sua identidade estivesse reduzida àquilo.

A organização mundial de Saúde define saúde como: um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades. Logo, é possível compreender que estar saudável, ou no sentido mais amplo disso tudo, estar feliz, não se resume apenas a uma imagem que é passada aos outros. Afinal, quando estamos bem consigo mesmo, isso reflete pelos poros, pela pele e pelo olhar.

Temos que impedir que o corpo se transforme em mercadoria de consumo, como muitas vezes somos influenciados com revistas, filmes, novelas e a mídia em geral. A nossa relação com o mundo externo e interno tem de ser harmônica, e isso é muito importante principalmente para nós da nutrição, pois muito além de prescrição de dietas temos em mãos o ser humano, e toda sua complexidade, que com certeza não se reduz aos quilinhos a mais.

"Cada um ali vive intensamente sua vida, lhe dá um peso que equivale à imagem que fazem de si e as suas expectativas sobre os outros. Cada um ali se defronta com a leveza quando se despem disso...”

(A insustentável leveza do Ser; Milan Kundera).

Beatriz Crepaldi Smidt
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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Macaxeira metida a besta!


Esses dias conheci o interior de Pernambuco em uma viagem a trabalho, e como trabalho com alimentação e nutrição, meu foco no sertão não poderia ser outro. É sensacional conhecer os diversos hábitos alimentares, como pode dentro de um mesmo país haver tanta diversidade! Carne de bode, feijão de corda, carne de sol com macaxeira, arroz de leite. Oh delícia! Seria melhor ainda se as pragas dos Alimentos Ultraprocessados (AUP) não estivem presente em cada canto da cidade interiorana. Que epidemia é essa que os AUPs estão em todo lugar? Acompanhados da epidemia da obesidade em que vivemos atualmente. Não basta as grandes cidades, no interior do nordeste, barcos de empresas que levam os AUPs em regiões ribeirinhas no Amazonas. E como fica a cultura alimentar da região? E a economia da produção regional de alimentos? Afinal de contas, como ficam a soberania alimentar de um povo e sua segurança alimentar e nutricional? Sempre me esforço para observar antropologicamente a alimentação de uma população, mas meu viés sociológico sempre me distrai. Nessa viagem fiquei me perguntando porque raios esses alimentos são acessíveis, baratos e para muitos, saborosos, a ponto de uma cultura alimentar ser esquecida? A quem esses AUPs de fato alimentam? Devemos valorizar mais nossa alimentação, nossas raízes. Fazer como a Bolívia, onde a maior rede de fast-food faliu. E só não conseguiu impor sua gastronomia norte-americana entre os bolivianos por estes terem sua cultura alimentar fortemente defendida.

E a cultura alimentar do brasileiro? Pensemos um pouco com qual frequência comemos nosso ‘típico’ arroz e feijão...e os refrigerantes...os salgadinhos de milho...as bolachas de chocolate recheadas. E com que frequência encontramos frutas durante a correria do dia-a-dia para um lanche da manhã? E quando encontramos, qual o seu preço. Mais barato que uma bolacha? Enfim, o tal do ambiente obesogênico, as propagandas das indústrias de alimentos, o desestímulo em consumir nossos alimentos regionais...e assim vamos perdendo nossa identidade alimentar.

Por que não ser mais adepto ao baião de dois, a tapioca com mateiga, tacacá, acarajé, bolo de piracuí, macaxeira metida a besta (adoro o nome desse prato!), arroz de carreteiro, maniçoba, tucupi, doce de cupuaçu, beiju, bolo de pupunha, moqueca capixaba, pamonha, mocotó e uma infinidade de preparações regionais! Que alimentam nossa cultura, constroem nossa identidade que é plural!

Antes de finalizar, deixo a receita desta, Macaxeira Metida a Besta!


Ingredientes:

  • 1kg de macaxeira
  • Sal a gosto
  • 2 1/2 xícaras (chá) de farinha de mandioca
  • 4 xícaras (chá) de óleo 
  • 1 xícara (chá) queijo de coalho ralado grosso
  • 1 1/2 xícara (chá) de carne seca dessalgada e desfiada
  •  2 colheres (sopa) de manteiga
  • 1 colher de salsinha picada


Modo de preparo:

 Descasque as macaxeiras e corte-as em pedaços de 10cm.  Cozinhe com o sal até ficarem macias.  Corte-as em tiras de 1cm de largura e passe-as na farinha de mandioca. Aqueça bem e frite-as.  Retire e coloque em papel toalha para tirar o excesso de óleo.  Arrume a metade da macaxeira em uma travessa e polvilhe com o queijo.  Coloque a outra metade, cubra com carne seca e polvilhe com mais queijo.  Leve ao forno preaquecido a 180C para dourar.  Tire do forno, pincele com manteiga e polvilhe com a salsinha.  Sirva em seguida. 

Bom apetite! 

Maria Eunice Waughan
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