Esses
dias conheci o interior de Pernambuco em uma viagem a trabalho, e como trabalho
com alimentação e nutrição, meu foco no sertão não poderia ser outro. É
sensacional conhecer os diversos hábitos alimentares, como pode dentro de um
mesmo país haver tanta diversidade! Carne de bode, feijão de corda, carne de
sol com macaxeira, arroz de leite. Oh delícia! Seria melhor ainda se as pragas
dos Alimentos Ultraprocessados (AUP) não estivem presente em cada canto da
cidade interiorana. Que epidemia é essa que os AUPs estão em todo lugar? Acompanhados
da epidemia da obesidade em que vivemos atualmente. Não basta as grandes
cidades, no interior do nordeste, barcos de empresas que levam os AUPs em
regiões ribeirinhas no Amazonas. E como fica a cultura alimentar da região? E a
economia da produção regional de alimentos? Afinal de contas, como ficam a
soberania alimentar de um povo e sua segurança alimentar e nutricional? Sempre
me esforço para observar antropologicamente a alimentação de uma população, mas
meu viés sociológico sempre me distrai. Nessa viagem fiquei me perguntando
porque raios esses alimentos são acessíveis, baratos e para muitos, saborosos,
a ponto de uma cultura alimentar ser esquecida? A quem esses AUPs de fato
alimentam? Devemos valorizar mais nossa alimentação, nossas raízes. Fazer como
a Bolívia, onde a maior rede de fast-food faliu. E só não conseguiu impor sua
gastronomia norte-americana entre os bolivianos por estes terem sua cultura
alimentar fortemente defendida.
E a
cultura alimentar do brasileiro? Pensemos um pouco com qual frequência comemos
nosso ‘típico’ arroz e feijão...e os refrigerantes...os salgadinhos de
milho...as bolachas de chocolate recheadas. E com que frequência encontramos
frutas durante a correria do dia-a-dia para um lanche da manhã? E quando encontramos,
qual o seu preço. Mais barato que uma bolacha? Enfim, o tal do ambiente
obesogênico, as propagandas das indústrias de alimentos, o desestímulo em
consumir nossos alimentos regionais...e assim vamos perdendo nossa identidade
alimentar.
Por
que não ser mais adepto ao baião de dois, a tapioca com mateiga, tacacá,
acarajé, bolo de piracuí, macaxeira metida a besta (adoro o nome desse prato!),
arroz de carreteiro, maniçoba, tucupi, doce de cupuaçu, beiju, bolo de pupunha,
moqueca capixaba, pamonha, mocotó e uma infinidade de preparações regionais!
Que alimentam nossa cultura, constroem nossa identidade que é plural!
Antes
de finalizar, deixo a receita desta, Macaxeira Metida a Besta!
Ingredientes:
- 1kg de macaxeira
- Sal a gosto
- 2 1/2 xícaras (chá) de farinha de mandioca
- 4 xícaras (chá) de óleo
- 1 xícara (chá) queijo de coalho ralado grosso
- 1 1/2 xícara (chá) de carne seca dessalgada e desfiada
- 2 colheres (sopa) de manteiga
- 1 colher de salsinha picada
Modo de preparo:
Descasque as
macaxeiras e corte-as em pedaços de 10cm. Cozinhe com o sal até ficarem macias. Corte-as em tiras de 1cm de largura e passe-as
na farinha de mandioca. Aqueça bem e frite-as. Retire e coloque em papel toalha para tirar o
excesso de óleo. Arrume a metade da
macaxeira em uma travessa e polvilhe com o queijo. Coloque a outra metade, cubra com carne seca e
polvilhe com mais queijo. Leve ao forno
preaquecido a 180C para dourar. Tire do
forno, pincele com manteiga e polvilhe com a salsinha. Sirva em seguida.
Bom
apetite!
Maria Eunice Waughan
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