quinta-feira, 1 de novembro de 2012

“Faça do teu alimento, o teu remédio.”


Há algumas semanas atrás tive que fazer uma pesquisa sobre Quefir pra uma disciplina da faculdade. O quefir é um grão originário do Cáucaso, uma região que fica entre a Ásia e a Europa. É um alimento cada vez mais estudado/consumido, por ser um probiótico. Alimento probiótico é aquele  alimento que tem na sua composição microrganismos que promovem benéficos a saúde.

No desenrolar dessa pesquisa li um texto que começava com a seguinte citação, “Faça do teu alimento, o teu remédio.” Já tinha ouvido essa frase, mas nunca havia dado a devida atenção. Segundo fontes não muito seguras, essa frase foi dita a mais de 2 mil anos atrás e é de autoria de Hipócrates, um filosofo grego tido como  “O pai da medicina”. Pra mim, essa relação de alimento e remédio é na verdade um pouco nebulosa, uma vez que nunca associei remédio como algo bom e prazeroso. Muitíssimo diferente da forma como eu enxergo os alimentos e o processo de alimentação. Me parece algo muito coerente, pois, já está mais que comprovado o poder dos alimentos na manutenção e recuperação de um bom estado de saúde/vida.

Mas fiquei pensando, não na frase de Hipócrates, mas no fato de que, nós nos alimentamos varias vezes ao dia, todo dia. E nos alimentamos, olha só, de alimentos! Mas será que quando essa frase foi dita, o cara que a “assinou” estava falando do mesmo alimento que nós comemos hoje, todos os dias?

Ai que tá, bioquimicamente, talvez sim. Mas como nossas relações não são equacionados bioquimicamente, o que nós comemos não é exatamente o mesmo alimento que Hipócrates se referia a 2 mil anos. Faça um simples exercício mental, tente se lembrar dos alimentos que você tem no seu armário e na sua geladeira. Se não se lembra vá até eles e dê uma breve olhada. Percebeu o tanto de plástico envolta dos alimentos?! Esse plástico é uma tecnologia desenvolvida, 1) para conservar por mais tempo os alimentos e 2) para criar uma segunda imagem do alimento, que dependendo da perspectiva pode ser visto como um “produto”.

Em algum momento da história nos “des”envolvemos de tal forma que foi preciso criar tecnologias para conservar os alimentos por mais, e cada vez mais, tempo. Mais especificamente quando começamos a nos organizar como “sociedade industrial”, lá por volta de 1750 (d.c).

A embalagem é uma dessas tecnologias que nos ajudam, mas que também nos afetam, sobretudo na questão ambiental, quando não damos o destino correto às mesmas. Porém existem outros elementos, além das embalagens, e esses intrinsecamente ligados aos alimentos, que são os conservantes químicos, os acidulantes, os aromatizantes, os corantes e etc. Na sua maioria, aditivos artificiais, ou seja, que não se encontram naturalmente na composição química dos alimentos, e estão sendo adicionados com o propósito de conserva-los e atribuir sabores que remetem aos alimentos no seu estado natural.

Muita gente já torce o nariz para os alimentos industrializados, embutidos, com excesso de açúcar, sal, porque sabe que de alguma forma eles trazem algum prejuízo pra saúde. Existem pesquisas sendo divulgadas, exaustivamente, que relacionam o consumo excessivo desses alimentos às recentes epidemias de obesidade, diabetes, hipertensão arterial e uma diversidade de câncer (de boca, estômago, esôfago e intestino). E quando se pergunta para as pessoas o porquê, mesmo sendo elas conscientes dos prejuízos, elas continuam a consumir esses alimentos, uma resposta é quase unânime: “Por falta de tempo!”, “Por conta da correria do dia-a-dia”. E aqui, nessas respostas é quero chamar a atenção pra uma questão muito simples, e que nessa tal “correria do dia-a-dia” acaba nos tirando o foco.

Em que momento da vida moderna, nós, seres (teoricamente) pensantes, deixamos que a nossa alimentação diária fosse substituída pelos lixos, VAZIOS, em termos de vitaminas, minerais, gorduras “boas” e proteínas de alto valor biológico, o qual damos o nome de Alimentos Industrializados? Sobretudo nós brasileiros que temos a disposição uma imensa biodiversidade e um clima perfeito à produção de uma infinidade de alimentos altamente nutritivos, e com potencial enorme de promover a saúde da população?

Falo aqui, especificamente da questão alimentar, mas a crítica é ampla e nasce basicamente de uma rápida análise dessa lógica produtivista a qual temos nos organizado. Já parou pra pensar no tamanho da falta de respeito que cometemos na forma como lidamos com nossos corpos todos os dias?

Não me parece lógico, que as nossas atividades básicas, como o estudo e o trabalho, tomem tanto o nosso tempo, de modo que não possamos tirar algumas horinhas pra preparar e apreciar, de fato, o que levamos para o nosso prato. É certo que a questão é um pouco mais ampla, perpassa também a discussão de políticas públicas voltadas à Soberania Alimentar e a Produção de Alimentos. Mas algumas atitudes são nossas. Submeter-se a trabalhos, empreitadas, metas e projetos que sugam nosso tempo, de modo que outras esferas da vida sejam relevadas totalmente a segundo plano, não teremos outro resultado senão esse a que temos assistido: pessoas deprimidas, epidemias de doenças comportamentais, câncer e mais uma série de prejuízos para a nossa saúde. E nesse caso, temo em dizer, que no longo prazo, a simples formulazinha do nosso amigo Hipócrates, não vai servir de nada.

Alison Douglas
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