Há
algumas semanas atrás tive que fazer uma pesquisa sobre Quefir pra uma
disciplina da faculdade. O quefir é um grão originário do Cáucaso, uma região
que fica entre a Ásia e a Europa. É um alimento cada vez mais
estudado/consumido, por ser um probiótico. Alimento probiótico é aquele alimento que tem na sua composição microrganismos
que promovem benéficos a saúde.
No
desenrolar dessa pesquisa li um texto que começava com a seguinte citação, “Faça do teu alimento, o teu remédio.” Já
tinha ouvido essa frase, mas nunca havia dado a devida atenção. Segundo fontes
não muito seguras, essa frase foi dita a mais de 2 mil anos atrás e é de
autoria de Hipócrates, um filosofo grego tido como “O pai da medicina”. Pra mim, essa relação de
alimento e remédio é na verdade um pouco nebulosa, uma vez que nunca associei
remédio como algo bom e prazeroso. Muitíssimo diferente da forma como eu
enxergo os alimentos e o processo de alimentação. Me parece algo muito coerente,
pois, já está mais que comprovado o poder dos alimentos na manutenção e
recuperação de um bom estado de saúde/vida.
Mas
fiquei pensando, não na frase de Hipócrates, mas no fato de que, nós nos
alimentamos varias vezes ao dia, todo dia. E nos alimentamos, olha só, de
alimentos! Mas será que quando essa frase foi dita, o cara que a “assinou”
estava falando do mesmo alimento que nós comemos hoje, todos os dias?
Ai
que tá, bioquimicamente, talvez sim. Mas como nossas relações não são equacionados
bioquimicamente, o que nós comemos não é exatamente o mesmo alimento que
Hipócrates se referia a 2 mil anos. Faça um simples exercício mental, tente se
lembrar dos alimentos que você tem no seu armário e na sua geladeira. Se não se
lembra vá até eles e dê uma breve olhada. Percebeu o tanto de plástico envolta
dos alimentos?! Esse plástico é uma tecnologia desenvolvida, 1) para conservar
por mais tempo os alimentos e 2) para criar uma segunda imagem do alimento, que
dependendo da perspectiva pode ser visto como um “produto”.
Em
algum momento da história nos “des”envolvemos de tal forma que foi preciso
criar tecnologias para conservar os alimentos por mais, e cada vez mais, tempo.
Mais especificamente quando começamos a nos organizar como “sociedade
industrial”, lá por volta de 1750 (d.c).
A
embalagem é uma dessas tecnologias que nos ajudam, mas que também nos afetam,
sobretudo na questão ambiental, quando não damos o destino correto às mesmas.
Porém existem outros elementos, além das embalagens, e esses intrinsecamente
ligados aos alimentos, que são os conservantes químicos, os acidulantes, os
aromatizantes, os corantes e etc. Na sua maioria, aditivos artificiais, ou
seja, que não se encontram naturalmente na composição química dos alimentos, e
estão sendo adicionados com o propósito de conserva-los e atribuir sabores que
remetem aos alimentos no seu estado natural.
Muita
gente já torce o nariz para os alimentos industrializados, embutidos, com
excesso de açúcar, sal, porque sabe que de alguma forma eles trazem algum
prejuízo pra saúde. Existem pesquisas sendo divulgadas, exaustivamente, que
relacionam o consumo excessivo desses alimentos às recentes epidemias de
obesidade, diabetes, hipertensão arterial e uma diversidade de câncer (de boca,
estômago, esôfago e intestino). E quando se pergunta para as pessoas o porquê,
mesmo sendo elas conscientes dos prejuízos, elas continuam a consumir esses
alimentos, uma resposta é quase unânime: “Por falta de tempo!”, “Por conta da
correria do dia-a-dia”. E aqui, nessas respostas é quero chamar a atenção pra
uma questão muito simples, e que nessa tal “correria do dia-a-dia” acaba nos
tirando o foco.
Em
que momento da vida moderna, nós, seres (teoricamente) pensantes, deixamos que
a nossa alimentação diária fosse substituída pelos lixos, VAZIOS, em termos de
vitaminas, minerais, gorduras “boas” e proteínas de alto valor biológico, o
qual damos o nome de Alimentos Industrializados? Sobretudo nós brasileiros que
temos a disposição uma imensa biodiversidade e um clima perfeito à produção de
uma infinidade de alimentos altamente nutritivos, e com potencial enorme de
promover a saúde da população?
Falo
aqui, especificamente da questão alimentar, mas a crítica é ampla e nasce
basicamente de uma rápida análise dessa lógica produtivista a qual temos nos
organizado. Já parou pra pensar no tamanho da falta de respeito que cometemos na
forma como lidamos com nossos corpos todos os dias?
Não
me parece lógico, que as nossas atividades básicas, como o estudo e o trabalho,
tomem tanto o nosso tempo, de modo que não possamos tirar algumas horinhas pra
preparar e apreciar, de fato, o que levamos para o nosso prato. É certo que a
questão é um pouco mais ampla, perpassa também a discussão de políticas
públicas voltadas à Soberania Alimentar e a Produção de Alimentos. Mas algumas
atitudes são nossas. Submeter-se a trabalhos, empreitadas, metas e projetos que
sugam nosso tempo, de modo que outras esferas da vida sejam relevadas
totalmente a segundo plano, não teremos outro resultado senão esse a que temos
assistido: pessoas deprimidas, epidemias de doenças comportamentais, câncer e
mais uma série de prejuízos para a nossa saúde. E nesse caso, temo em dizer,
que no longo prazo, a simples formulazinha do nosso amigo Hipócrates, não vai
servir de nada.
Alison
Douglas
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