terça-feira, 6 de novembro de 2012

O que tem a ver a fome, Eduardo Galeano e os Guarani- Kaiowás?


FOME,

·         Na Gramática: Substantivo feminino com quatro letras, sendo duas vogais e duas consoantes;
·         Na Matemática: Arranjo de quatro elementos, que possibilitam 24 anagramas.
·         Na Fisiologia: Inata, não seletiva, necessidade de fonte de energia para o crescimento, desenvolvimento e manutenção da vida.


Hoje é minha estreia no blog, e como toda(o) iniciante, fiquei pensando em milhares de temas que poderia abordar na minha primeira contribuição.  Então, pensei em compartilhar uma das minhas mais recentes e queridas ocupações, o Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano.

Escolhi carinhosamente o texto:

 “A fome/2: Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor... O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá de comer, tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços”.

Atualmente coloca-se em voga a questão do genocídio indígena no Brasil, destacado principalmente pela representação dos Guarani-Kaiowás, tribo situada no município de Iguatemi, Mato Grosso do Sul.  Há muito tempo os índios sofrem com sucessivas investidas que partem dos (des)mandos de grandes empresários ruralistas. Essa situação crônica de afronta aos direitos humanos é advinda da falta da demarcação de terras e do crescimento desenfreado e inescrupuloso do agronegócio nas terras do Pantanal (como em diversas terras espalhadas pelo solo verde e amarelo). Tudo começou em 1770, quando se desencadeou um processo genocida com uma verdadeira política de remoção dos Guarani-Kaiowá de seu território de origem. Muito por  parte dos (agro)empresários na incessantemente busca da expansão de seus territórios (lucros) bem respaldados por um governo conivente.   Após sucessivos ataques, o que pode-se perceber foi uma redução considerável das terras para que os índios habitavam, o que para os Guarani-Kaiowá representou uma redução da própria possibilidade de existência, culminando num alto índice de suicídios (principalmente entre os jovens).

A cerca de um mês, a visibilidade da questão indígena tomou grandes proporções, principalmente na mídia alternativa (redes sociais), após a declaração da carta dos Guarani-Kaiowás ao povo brasileiro, onde expuseram que se fossem retirados de suas terras como uma liminar da justiça federal colocava, todos prefeririam cometer um suicídio coletivo, para que em suas terras ficassem marcadas por sangue, o fim de suas vidas. A demarcação das terras indígenas é uma solicitação pautada há tempos, uma vez que diferentemente do simbolismo que as terras tem para os ruralistas (pedaços/espaços de mercadorias), os índios enxergam nas mesmas suas (sobre) vidas propriamente ditas, agredindo assim, seu teko arandu – modo sábio de viver.

E o que tem haver a fome com isso? TUDO. Seguindo a lógica do texto de Galeano, vivemos uma realidade dotada de muitas contradições, paradoxos e fomes. A questão indígena representa sim um cenário relacionado ao sentido majoritário que conhecemos da fome, até por que segundo relatórios da Suvival International em parceria com a ONU em 2006, a fome, problemas de saúde e de depressão estão se espalhando entre os índios, os caracterizando-os como comunidades com forte prevalência de insegurança alimentar no país, mesmo que paradoxalmente dividam cena com a (falsa) ideia de que o agronegócio seria a solução para combater a mesma (vide Revolução Verde). Porém, a fome que coloco em questão é a fome que Galeano brilhantemente detecta quando finda seu texto, a fome de amor ao próximo!

Pensar na segurança alimentar dos índios (que inclui o direito à vida, às terras, o acesso ao alimento, condições de habitação,...) é simplesmente um desdobramento, quando se pensa na busca da erradicação da fome de altruísmo que temos instalada em nossa sociedade. Muitas(os) poderiam se perguntar, então, como sanar essa fome. E eu mesma responderia que não sei, e nem acredito que devemos nos prender a isso. O central de voltarmos nossos olhares a esse tipo de fome é simplesmente o primeiro passo: problematizar a questão. Rotineiramente, assim como as opressões, a coisificação das relações humanas e o desejo incessante de se sobrepor a(o) outra(o) vem se naturalizando e se cristalizando. E é onde a disposição, o desejo de mudar, e principalmente, a crença na mudança surgem como fatores essenciais para o inicio do processo propriamente dito.

Dessa forma, gostaria de deixar essa reflexão à todas(os), agregada de uma convite, para que não nos bastemos com a solidariedade, mas nos levantemos contra essa e outras diversas fomes, buscando uma superação a partir de saídas individuais (buscando o altruísmo em nossas ações) e coletivas, a partir do pensamento e ações em conjunto.

"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos." (Eduardo Galeano)

Sophia Rosa
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